top of page

“A fome tem pressa”

Quem diz isso é Eide Ferreira Lima Abreu, de 57 anos, coordenadora voluntária da Casa da Sopa, no Jardim Petrópolis, em Bauru. Na linha de frente, auxiliando famílias em vulnerabilidade social, ela vê cada vez mais pessoas procurando ajuda. Com o aumento da taxa de desemprego, inflação do preço dos alimentos e, principalmente, do botijão de gás, muitas pessoas encontram dificuldade em colocar comida no prato. 

O projeto voluntário oferece assistência para 850 famílias, desde a entrega de marmitex até a de cestas básicas. Recentemente, a instituição inaugurou a primeira Cozinha Solidária, no bairro Jardim Petrópolis. Coordenado por Eide Abreu, o local possibilita que famílias cadastradas que não possuem condições de comprar um botijão de gás agendem um horário para utilizar o fogão. A coordenadora relata o drama de muitas pessoas: “tem gente se virando, pegando madeira, galhos e fazendo o seu fogão ‘pra’ poder cozinhar, né? Porque ficar com fome não dá”. 

IMG-20210720-WA0006.jpg

Para se tornar um voluntário da Casa da Sopa da Vila Dutra, basta entrar em contato com a coordenadora geral Rose Lopes, através do número (14) 99162-6811. Doações podem ser entregues no Estacionamento do Poletti, na Rua Presidente Kennedy, 5-7, ou solicitar coleta (Foto: Eide Abreu)

Uma das famílias que fazem uso da Cozinha Solidária é a de Edilene Cardoso. Com uma renda mensal de R$150,00, comprar o botijão de gás pode ser um investimento de alto risco. Em Bauru, o GLP possui preço médio de R$89,72 - que equivale a 60% da renda fixa da família de Edilene. O valor máximo do botijão de gás na cidade é de R$98,00, de acordo com os preços levantados em julho pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis em 26 distribuidoras de gás de Bauru.

 

Edilene tem uma família de sete pessoas: ela, o marido e cinco crianças. Eles frequentam a Casa da Sopa desde o ano passado, quando ela e o marido ficaram desempregados. De acordo com Edilene, a Cozinha Solidária tem sido “de grande ajuda. Estamos desesperados, por causa dessa situação da pandemia e da falta de emprego”. Lá, eles recebem doações de alimentos e roupas, além de usarem a Cozinha Solidária para cozinhar as próprias refeições. “A Casa da Sopa tem sido um socorro”, ela conclui.

00:00 / 00:34
Foto Edilene_edited.jpg

"Eu tô fazendo o essencial né, que é o arroz e o feijão, porque se a gente fizer mais vai acabar atrapalhando e o gás vai mais rápido"

Edilene Cardoso


No Brasil, neste ano, o botijão de gás saltou de preço seis vezes. Em junho, o  Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) sofreu um reajuste de 5,8% no seu valor médio e passou a custar R$ 3,40 por quilograma (kg) - o que representa aumento médio de 20 centavos a cada kg. Desde o começo do ano, o botijão de gás acumula uma alta de 38%. Os reajustes aconteceram em um momento em que a cotação do petróleo atingiu o seu maior valor em seis anos.

“O GLP sofre uma interferência muito forte do petróleo no mercado internacional. Além disso, nós também temos a questão dos impostos. No preço do gás de cozinha, estão inclusos os impostos federais - sobretudo, PIS e COFINS, que foram zerados - e o ICMS, de natureza estadual. Aqui no Estado de São Paulo, esse valor é de 13,3% - além do lucro da Petrobras e das distribuidoras. Então, esses preços ficam bem mais pressionados por causa disso tudo”, explica o economista Diego Richene.

Composição do GLP AZUL - versão final (1).png

Infográfico mostrando a composição do preço do botijão de gás no Brasil, com dados coletados entre 11 e 17 de julho de 2021

(Foto: Marina Semensato)

bottom of page