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MUDANÇA DE POLÍTICA

Desde 2019, o preço do gás de cozinha quase dobrou. Isso se deve, sobretudo, às mudanças na política de reajuste da Petrobras. Se antes a empresa só olhava para o que acontecia no mercado interno para basear os seus preços, nos últimos dois anos, ela passou a também considerar as variações do mercado internacional 

 

Mas, por que isso acontece? O Brasil ainda depende de muita importação. Isso significa que os combustíveis, e até mesmo o GLP, não são fornecidos de maneira final ao consumidor. Muitas vezes, a transformação do petróleo em seus derivados é realizada pela Petrobras em algumas frentes no exterior. 

“De certa forma, isso é uma pressão não apenas do novo governo brasileiro, que assumiu em 2019, mas também dos acionistas da empresa. Isso porque eles viam que, todas as vezes que os custos de produção aumentavam, a Petrobras não repassava esse valor aos consumidores e isso diminuía o seu lucro”, explica o economista Diego Richene.

“De certa forma, isso é uma pressão não apenas do novo governo brasileiro, que assumiu em 2019, mas também dos acionistas da empresa. Isso porque eles viam que, todas as vezes que os custos de produção aumentavam, a Petrobras não repassava esse valor aos consumidores e isso diminuía o seu lucro”

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Diego Richene - economista

“Ao mesmo tempo que as políticas públicas que garantiam alguma forma de assistência vão sendo diminuídas, eliminadas ou negligenciadas, na outra ponta, o custo de vida vai aumentando gigantescamente por conta de uma política de governo que favorece o agronegócio, que vai aumentar o preço dos combustíveis, do gás de cozinha e que explica o porquê 23,5% da população brasileira hoje vive numa situação de insegurança alimentar”

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Anderson Deo - professor da Unesp 

O professor Anderson Deo, do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas na Unesp em Marília, concorda. “A nossa moeda está desvalorizada em relação à moeda internacional. Isso significa que o nosso dinheiro vai comprar menos coisas lá fora. Se as empresas brasileiras vão importar mercadorias, elas vão gastar muito mais reais para comprá-las, porque elas são vendidas em dólares”, afirma.

De acordo com Anderson, essas variações de preços também são consequências de uma política governamental “de destruição dos poucos direitos que restavam no estado brasileiro”. Para ele, essa “negligência” é causada por um governo federal que prioriza uma gestão voltada para os interesses dos grandes grupos empresariais. 

 

“Ao mesmo tempo que as políticas públicas que garantiam alguma forma de assistência vão sendo diminuídas, eliminadas ou negligenciadas, na outra ponta, o custo de vida vai aumentando gigantescamente por conta de uma política de governo que favorece o agronegócio, que vai aumentar o preço dos combustíveis, do gás de cozinha e que explica o porquê 23,5% da população brasileira hoje vive numa situação de insegurança alimentar”, comenta. 

Por que os produtos aumentam de preço?

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"A carne aumentou internamente porque esse mesmo dólar que encarece um pouquinho ou muito a produção da carne favorece enormemente esses produtores porque eles vendem pro exterior, então a preferência do produtor é a venda da carne para o exterior porque ele vai ganhar muito mais, e aí vai faltar carne no mercado interno, e aí faltando carne no mercado interno maior é o seu preço"

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"Isso contribui diretamente pra condição de fome porque além da inflação sobre o preço dos alimentos, os grandes produtores preferem produzir e vender para o exterior porque vai ganhar muito mais, por isso que o álcool combustível também tem o preço super elevado (...) assim é com o arroz, e assim é com o feijão"

Contexto das políticas públicas no Brasil

O Brasil sempre teve a questão da fome como uma das suas principais marcas da desigualdade social. Nas últimas décadas, o desenvolvimento de políticas públicas pelos governos vigentes, como, por exemplo, o programa Fome Zero, fez com que o país começasse a superar os diversos elementos dessa desigualdade. Segundo o relatório o Estado da Insegurança Alimentar no Mundo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), entre 2002 e 2013, caiu em 82% o número de brasileiros em situação de subalimentação, e, considerando de 1990 a 2014, o percentual de queda foi de 84,7%.

 

Em 2014, o Brasil deixou o chamado Mapa da Fome, levantamento feito e publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação global de carência alimentar, simbolizando um dos grandes avanços dos programas até então implementados. Mas essa tendência não se manteve nos governos seguintes.

 

Segundo o professor Anderson Deo, do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas na Unesp em Marília, o que nós observamos, a partir de 2016, é uma retirada constante de recursos desses programas, e o Brasil, novamente, vem aumentando o índice de pessoas que vivem numa condição de extrema pobreza. O relatório recente da FAO revela que 23,5% da população brasileira sofreu com insegurança alimentar moderada ou grave entre 2018 e 2020, sendo que, no período de 2014 a 2016, essa parcela era de 18,3%. Historicamente, esse quadro vai atingir as populações mais pobres que se concentram nas periferias e também a população negra. 

 

O docente caracteriza esse processo como uma “política de destruição dos poucos direitos que restavam do estado brasileiro”, implementada, principalmente, a partir do governo de Michel Temer, mas que se aprofunda com a atual gestão de Jair Bolsonaro. “Os índices demonstram que o abismo entre a população mais rica é cada vez maior em relação a população mais pobre, com, cada vez mais, um número menor de pessoas concentrando o equivalente a riqueza nacionalmente produzida em suas mãos, em detrimento do aumento da fome, do aumento da carestia”, ele afirma. 

 

Essa “política de aprofundamento do liberalismo” vai ter como consequência não só o aumento do preço dos alimentos, como também dos combustíveis em geral e do gás de cozinha. Anderson define como uma gestão voltada para os grandes monopólios, para o grande capital financeiro, industrial e para o capital agrário, e que, portanto, são governos que aprofundam um projeto de nação em função dos interesses desses grandes grupos.

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